QUESTÃO 1 (3
pontos)
Você aprendeu que a epopeia é uma narrativa, normalmente em
versos, com a intenção de narrar feitos heroicos, extraordinários. Leia o texto
abaixo com atenção.
ÉPICO Luis
Fernnado Veríssimo
O
futebol de calçada era com narração e o próprio jogador fornecia a narração.
Jogava e descrevia sua jogada ao mesmo tempo, e nunca deixava de se
autoentusiasmar. "Sensacional, senhores ouvintes!" (Naquele tempo os
locutores tratavam o público de "senhores ouvintes").
"Sensacional!
Mata no peito, põe no chão, faz que vai mas não vai, passa por um, passa por
dois...Fáu! Foi fáu do beque! O juiz não deu! O juiz está comprado, senhores
ouvintes!"
Fáu era
"foul" e beque era "back", na língua daquela terra
estranha, o passado. E o juiz,claro, era imaginário. Tudo era imaginário no
futebol de calçada, a começar pela nossa genialidade. A bola era de borracha,
quando não era qualquer coisa remotamente redonda.[...]
Mas
éramos gênios na nossa própria narração. "Lá vai ele de novo. Cabeça
erguida! Passa a bola e corre para receber de volta...que lance! O passe não
vem! Não lhe devolveram a bola! Assim não dá, senhores ouvintes...Só ele joga
nesse time!"
A
narração dava um toque épico ao futebol. Lembro que na primeira vez em que fui
a um campo, acostumado a só ouvir futebol pelo rádio, senti falta de alguma
coisa que não sabia o que era. Tudo era maravilhoso, o público, o cheiro de
grama, os ídolos que eu conhecia de fotografias desbotadas no jornal ali, em
cores vivas...Mas faltava uma voz me dizendo que o que eu estava vendo era mais
do que eu estava vendo. Faltava a narrativa heroica. Faltava o Homero.
Na
calçada éramos os nossos próprios heróis e os nossos próprios Homeros.
"Atenção.
Ele olha para o gol. Vai chutar. Lá vai a bomba.O goleiro treme. ele chuta! A
bola toma efeito. Entra pela janela. e lá vem a mãe, senhores ouvintes! A mãe
invade o campo. Ele tenta se esquivar. Dá um drible espetacular na mãe. Dois. A
mãe pega ele pela orelha. Pela orelha! E o juiz não vê isso!"
Mesmo se
nem tudo merecesse o toque épico.
Publicado em: O Globo, de 26/09/2013.
1.1.
Agora, explique a razão pela qual, segundo você pode concluir, o
escritor contemporâneo Luis Fernando Verissimo deu o título de
"Épico" a essa crônica de jornal. Use pelo menos dois argumentos na
sua resposta.
1.2.
Utilize exemplos retirados do texto para dar credibilidade ao
seu comentário.
QUESTÃO
2 (4 pontos)
O trecho abaixo foi extraído do conto A cartomante,
do genial escritor brasileiro Machado de Assis. Nele nota-se uma das mais
características mais valorizadas nas obras do gênero narrativo, que é o humor. No entanto, outros elementos
singularizantes da prosa de ficção também estão presentes, como os personagens,
o narrador e a ação principal.
(...)
Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação das
origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu
a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do
pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada,
até que a mãe lhe conseguiu um emprego público. No princípio de 1869, voltou
Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura
e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de
Botafogo e foi a bordo recebê-lo.
– É o
senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu
amigo; falava sempre do senhor.
Camilo e
Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois Camilo confessou de
si para si que a mulher de Vilela não desmerecia as cartas do marido.
Realmente,era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e
interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela
vinte e nove e Camilo vinte e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o
parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e
prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo como o óculos de cristal, que a
natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem
intuição.
Uniram-se
os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e
nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela
cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do
coração, e ninguém o faria melhor.(...)
ASSIS, Machado de. A
cartomante. In: Contos consagrados
de Machado de Assis. Rio de
Janeiro: Edições de Ouro, s/d.
2.
Agora:
2.1.Indique quatro elementos singularizantes da prosa de ficção presentes no
texto.
2.2. Exemplifique com palavras retiradas do texto
cada um dos elementos.
QUESTÃO 3 (3 pontos)
O
Exemplum, conforme lido na Aula 11, é um texto curto que narra uma
situação exemplar e tem como objetivo imprimir à história uma lição de moral. As fábulas são um exemplo
desse titpo de texto. Há variações menos diretas da exemplaridade, em
texto em que os incidentes que o compõe o percurso do enredo e seu desfecho é
que apontam para a presença dessa lição.
Leia
o texto abaixo:
A
Loucura resolveu convidar os amigos para tomar um café em sua casa. Todos os
convidados foram. Após o café, a Loucura propôs:
–
Vamos brincar de esconde-esconde?
–
Esconde-esconde? O que é isso? - perguntou a Curiosidade.
–
Esconde-esconde é uma brincadeira. Eu conto até cem e vocês se escondem. Ao
terminar de contar, eu vou procurar, e o primeiro a ser encontrado será o
próximo a contar.
Todos
aceitaram, menos o Medo e a Preguiça.
–
1,2,3,... – a Loucura começou a contar.
A
Pressa escondeu-se primeiro, num lugar qualquer. A Timidez, tímida como sempre,
escondeu-se na copa de uma árvore. A Alegria correu para o meio do jardim.
Já
a Tristeza começou a chorar, pois não encontrava um local apropriado para se esconder.
A
Inveja acompanhou o Triunfo e se escondeu perto dele de baixo de uma pedra. A
Loucura continuava a contar e os seus amigos iam se escondendo.
O
Desespero ficou desesperado ao ver que a Loucura já estava no noventa e nove.
–
Cem! – gritou a Loucura. – Vou começar a procurar.
A
primeira a aparecer foi a Curiosidade, já que não agüentava mais querendo saber
quem seria o próximo a contar.
Ao
olhar para o lado, a Loucura viu a Dúvida em cima de uma cerca sem saber em
qual dos lados ficar para melhor se esconder. E assim foram aparecendo a
Alegria, a Tristeza, a Timidez...
Quando estavam todos reunidos, a Curiosidade
perguntou:
– Onde está o Amor?
Ninguém o tinha visto. A Loucura
começou a procurá-lo. Procurou em cima da montanha, nos rios, debaixo das pedra
e nada do Amor aparecer.
Procurando por todos os lados, a
Loucura viu uma roseira, pegou um pauzinho e começou a procurar entre os
galhos, quando de repente ouviu um grito. Era o Amor, gritando por ter furado o
olho com um espinho!
A Loucura não sabia o que fazer.
Pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor e até prometeu segui-lo para
sempre. O Amor aceitou as desculpas...
Hoje, o Amor é cego e a Loucura o
acompanha sempre.
(Autor
anônimo)
Acesso
em 29/09/2013
3. Com base nas características do texto de exemplaridade,
compare esse texto acima com o excerto de A cartomante, e diga:
3.1. Qual a “lição” que cada
um dos dois textos parece
passar?
3.2. De que modo faz isso?
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