quarta-feira, 2 de julho de 2014

AD2 LITERATURA NA FORMAÇÃO DO LEITOR 2013.2



QUESTÃO 1  (3 pontos)
Você aprendeu que a epopeia é uma narrativa, normalmente em versos, com a intenção de narrar feitos heroicos, extraordinários. Leia o texto abaixo com atenção.
                                   ÉPICO                                   Luis Fernnado Veríssimo

            O futebol de calçada era com narração e o próprio jogador fornecia a narração. Jogava e descrevia sua jogada ao mesmo tempo, e nunca deixava de se autoentusiasmar. "Sensacional, senhores ouvintes!" (Naquele tempo os locutores tratavam o público de "senhores ouvintes").
            "Sensacional! Mata no peito, põe no chão, faz que vai mas não vai, passa por um, passa por dois...Fáu! Foi fáu do beque! O juiz não deu! O juiz está comprado, senhores ouvintes!"
            Fáu era "foul" e beque era "back", na língua daquela terra estranha, o passado. E o juiz,claro, era imaginário. Tudo era imaginário no futebol de calçada, a começar pela nossa genialidade. A bola era de borracha, quando não era qualquer coisa remotamente redonda.[...]
            Mas éramos gênios na nossa própria narração. "Lá vai ele de novo. Cabeça erguida! Passa a bola e corre para receber de volta...que lance! O passe não vem! Não lhe devolveram a bola! Assim não dá, senhores ouvintes...Só ele joga nesse time!"
            A narração dava um toque épico ao futebol. Lembro que na primeira vez em que fui a um campo, acostumado a só ouvir futebol pelo rádio, senti falta de alguma coisa que não sabia o que era. Tudo era maravilhoso, o público, o cheiro de grama, os ídolos que eu conhecia de fotografias desbotadas no jornal ali, em cores vivas...Mas faltava uma voz me dizendo que o que eu estava vendo era mais do que eu estava vendo. Faltava a narrativa heroica. Faltava o Homero.
            Na calçada éramos os nossos próprios heróis e os nossos próprios Homeros.
            "Atenção. Ele olha para o gol. Vai chutar. Lá vai a bomba.O goleiro treme. ele chuta! A bola toma efeito. Entra pela janela. e lá vem a mãe, senhores ouvintes! A mãe invade o campo. Ele tenta se esquivar. Dá um drible espetacular na mãe. Dois. A mãe pega ele pela orelha. Pela orelha! E o juiz não vê isso!"
            Mesmo se nem tudo merecesse o toque épico.
Publicado em: O Globo, de 26/09/2013.

1.1.        Agora, explique a razão pela qual, segundo você pode concluir, o escritor contemporâneo Luis Fernando Verissimo deu o título de "Épico" a essa crônica de jornal. Use pelo menos dois argumentos na sua resposta.
1.2.        Utilize exemplos retirados do texto para dar credibilidade ao seu comentário.

QUESTÃO 2 (4 pontos)

O trecho abaixo foi extraído do conto A cartomante, do genial escritor brasileiro Machado de Assis. Nele nota-se uma das mais características mais valorizadas nas obras do gênero narrativo, que é o humor. No entanto, outros elementos singularizantes da prosa de ficção também estão presentes, como os personagens, o narrador e a ação principal.

            (...) Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe conseguiu um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo e foi a bordo recebê-lo.
            – É o senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.
            Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois Camilo confessou de si para si que a mulher de Vilela não desmerecia as cartas do marido. Realmente,era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vinte e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo como o óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
            Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.(...)
ASSIS, Machado de. A cartomante. In: Contos consagrados de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, s/d.

2.    Agora:
2.1.Indique quatro elementos singularizantes da prosa de ficção presentes no texto.
2.2. Exemplifique com palavras retiradas do texto cada um dos elementos.

QUESTÃO 3 (3 pontos)

O Exemplum, conforme lido na Aula 11, é um texto curto que narra uma situação exemplar e tem como objetivo imprimir à história uma  lição de moral. As fábulas são um exemplo desse titpo de texto. Há variações menos diretas da exemplaridade, em texto em que os incidentes que o compõe o percurso do enredo e seu desfecho é que apontam para a presença dessa lição.

Leia o texto abaixo:
            A Loucura resolveu convidar os amigos para tomar um café em sua casa. Todos os convidados foram. Após o café, a Loucura propôs:
            – Vamos brincar de esconde-esconde?
            – Esconde-esconde? O que é isso? - perguntou a Curiosidade.
            – Esconde-esconde é uma brincadeira. Eu conto até cem e vocês se escondem. Ao terminar de contar, eu vou procurar, e o primeiro a ser encontrado será o próximo a contar.
            Todos aceitaram, menos o Medo e a Preguiça.
            – 1,2,3,... – a Loucura começou a contar.
            A Pressa escondeu-se primeiro, num lugar qualquer. A Timidez, tímida como sempre, escondeu-se na copa de uma árvore. A Alegria correu para o meio do jardim.
            Já a Tristeza começou a chorar, pois não encontrava um local apropriado para se esconder.
            A Inveja acompanhou o Triunfo e se escondeu perto dele de baixo de uma pedra. A Loucura continuava a contar e os seus amigos iam se escondendo.
            O Desespero ficou desesperado ao ver que a Loucura já estava no noventa e nove.
            – Cem! – gritou a Loucura. – Vou começar a procurar.
            A primeira a aparecer foi a Curiosidade, já que não agüentava mais querendo saber quem seria o próximo a contar.
            Ao olhar para o lado, a Loucura viu a Dúvida em cima de uma cerca sem saber em qual dos lados ficar para melhor se esconder. E assim foram aparecendo a Alegria, a Tristeza, a Timidez...
             Quando estavam todos reunidos, a Curiosidade perguntou:
            – Onde está o Amor?
            Ninguém o tinha visto. A Loucura começou a procurá-lo. Procurou em cima da montanha, nos rios, debaixo das pedra e nada do Amor aparecer.
            Procurando por todos os lados, a Loucura viu uma roseira, pegou um pauzinho e começou a procurar entre os galhos, quando de repente ouviu um grito. Era o Amor, gritando por ter furado o olho com um espinho!
            A Loucura não sabia o que fazer. Pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor e até prometeu segui-lo para sempre. O Amor aceitou as desculpas...
            Hoje, o Amor é cego e a Loucura o acompanha sempre.
(Autor anônimo)
Acesso em 29/09/2013

3. Com base nas características do texto de exemplaridade, compare esse texto acima com o excerto de A cartomante, e diga:
3.1. Qual a “lição” que cada um dos dois textos parece passar?
3.2. De que modo faz isso?



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