UNIDADE I – O
CONHECIMENTO COMO COMPREENSÃO E
TRANSFORMAÇÃO DA
REALIDADE
OBJETIVO:
- Fazer você, nosso leitor em processo de especialização na vida universitária, refletir sobre a busca do conhecimento, a apreensão e a compreensão da realidade dentro do contexto da pesquisa científica relacionada com a inclusão educacional de alunos com deficiências; e fazer também com que você reconheça a importância dos aspectos históricos, ideológicos e sociais na aplicabilidade das pesquisas científicas.
Introdução
Prezado(a) aluno(a),
neste momento iniciamos uma jornada. Na presente unidade buscaremos apresentar
uma visão panorâmica da trajetória da humanidade em busca do conhecimento Você,
exatamente neste momento, encontra-se na busca de um conhecimento.
O estudo da
metodologia de pesquisa científica proporcionará ferramentas teóricas e
equipamentos fundamentais que o acompanharão durante toda a jornada.
Destacaremos a metodologia de pesquisa científica voltada para a educação de
alunos com necessidades educacionais especiais, dentro da perspectiva da
educação inclusiva.
Iniciaremos com o
tema do conhecimento por duas perspectivas: a mítica e a filosófica. Depois
passaremos para a arte da pintura renascentista que deixou o registro do
conhecimento da origem do homem pela perspectiva religiosa.
Desenvolvimento
A explicação mítica
O mito, em sua
condição de imutabilidade, é contado como tentativa de apreensão e incorporação
do mundo em que se vive. Pertence à tradição cultural de um povo.
Esta explicação muito
breve de mito tem apenas a intenção de dizer a você que, desde sempre, o homem
expressa o conhecimento a respeito da natureza e dele próprio.
Queremos dizer o
seguinte: “A primeira forma de expressão
do conhecimento se deu através do mito entendido como narrativa”.
A explicação pela
razão
Na Grécia antiga
(século VI a. C), com o início da filosofia, a explicação mítica das origens
enfraquece.
É então o pensamento
racional que passa a explicar a natureza pelo que ela própria é, portanto, sem
a recorrência ao sobrenatural.
Sócrates, por
exemplo, entendia que o verdadeiro filósofo era aquele que deveria estar
consciente de sua ignorância e deveria sempre utilizar a razão. Ele também
acreditava que para entrar em contato com supostas verdades precisar “interrogar”
os fatos, que é a arte da “maiêutica”. As falsas certezas, segundo ele podiam
levar a ideias preconceituosas.
As representações do
conhecimento pelo discurso religioso
As religiões
orientais e ocidentais também utilizam mitos e alegorias para explicar a origem
do bem e do mal, a união entre os opostos e o surgimento da humanidade. Uma
explicação em que uma verdade não pode ser questionada costuma tornar-se um
dogma, como sabemos.
Dogma: ponto fundamental e indiscutível de qualquer
sistema ou doutrina.
A força de uma
doutrina religiosa pode também constituir um conhecimento. Essa representação
da origem do homem revela que é da índole humana dar visibilidade ao
conhecimento que vai construindo a respeito de sua própria origem. E pode
fazê-lo inspirado por uma doutrina religiosa.
Observe o quadro de
Bosch: trata-se de uma pintura nada tradicional do Cristo coroado de espinhos.
Os torturadores de Cristo, pintados como seres humanos, aí estão como
representantes da humanidade, em oposição ao Filho de Deus. À direita, puxando
o manto, um dos tentadores segura-o e parece dizer: “Mas eu sei, já o sei”.
Com a segunda
ilustração temos o propósito de abordar também a questão das certezas como dado
cultural que nos ajudam a nos sentirmos seguros. Certezas e convicções sem base
científica podem ser facilmente recusadas, principalmente quando elas decorrem
de uma observação equivocada.
Há um teste que prova a existência do ponto cego. Teste
você mesmo.
- Faça o seguinte: tampe o olho esquerdo e fixe sua visão na cruz, desenhada ao lado do ponto, na figura a seguir. Aos poucos o ponto à direita desaparecerá.
- Agora faça isto com os dois polegares. O dedo direito aparecerá sem a sua última falange.
- Por que isto acontece? Porque a imagem cai na área que não tem sensibilidade à luz. Esta área chama-se ponto cego. Porém não andamos ao longo de nossas vidas percebendo que não vemos, porque o cérebro corrige esta distorção.
No livro, cujo título
é A árvore do conhecimento: “Não vemos o espaço do mundo, vivemos nosso campo
visual; não vemos as cores do mundo, vivemos nosso espaço cromático”.
Ainda nesse passo os
dois autores declaram que o “conhecimento é sempre transitório, as verdades e
certezas também, em relação a um determinado fenômeno”.
E o fenômeno da deficiência, como é percebido e explicado pela
humanidade?
No módulo relativo à
História da Educação Especial, vocês observarão que a tentativa de explicar a
diferença seguirá também os princípios da mitologia, da religião e do dualismo
bem e mal, clássicos nas religiões ocidentais. E terão também a explicação
científica.
A ciência
originou-se, em grande parte, das tentativas do homem para explicar o
inesperado. O lugar-comum, por outro lado, não cria problemas para o não
iniciados: certa sutileza é necessária para ver problemas no óbvio.
A necessidade de
reposta, o desejo pelo conhecimento iniciam modos e processos de busca de
transformação da realidade.
A explicação mítica:
a concepção demonológica
As explicações
míticas da deficiência ainda perduraram, mesmo após surgirem explicações
naturalísticas para este fenômeno.
A crença em espíritos
malignos, como causa da mudança de comportamento, contribuiu para uma
explicação demonológica da deficiência.
As primeiras
experiências de intervenção na minimização dos sintomas comportamentais das
deficiências foram às trepanações, perfurações realizadas no cérebro para que
os espíritos malignos pudessem ser libertados.
Os incas imaginavam
que a “doença” estava localizada no cérebro, por isso praticavam a trepanação.
Em que consistia a trepanação?
O que podemos
informar a você é o seguinte: a trepanação já era um procedimento cirúrgico
naquela época.
Os incas praticavam a
trepanação apenas com a finalidade de expulsar o demônio que, para eles, era a
causa do distúrbio mental no paciente.
Atualmente, a
neurociência busca o entendimento do desequilíbrio no funcionamento das áreas
cerebrais e o surgimento das patologias cerebrais. O desequilíbrio pode ser
causado por substâncias denominadas “neurotransmissores”. As tomografias
computadorizadas, os mapeamentos cerebrais podem ser a geração mais jovem das
práticas tradicionais da trepanação.
Uma rápida passagem pelos tratamentos da doença mental
O que nos permite
deduzir, naturalmente com certa precaução, que o asilo para pacientes com
enfermidade da mente, naquele século, era a solução para acabar com possíveis
maltratos familiares.
Ignorância e temor
eram as fontes dos homens que ainda consideravam esta doença como um “mal
divino”. Os médicos, por vezes, se apoiavam no naturalismo, por não disporem de
outras explicações para a doença mental.
Na Idade Média, o
sobrenatural e a magia eram dogmas aceitos.
Passemos à história
da educação dos surdos com a seguinte indagação? Que fato veio facilitar a educação
dos surdos?
Os primórdios da
educação de surdos
Pois bem, saiba que
no século XVII começou a utilização da Língua de Sinais no ensino dos surdos, a
partir do trabalho de Abade L’Epée, que arrebanhou surdos nos arredores de
Paris, criando a primeira escola pública para surdos, a primeira a utilizar a
Língua de Sinais.
Não se esqueça de que
os avanços no campo do conhecimento sofrem influências sociais, culturais e
hegemônicas. Uma invenção pode mudar o comportamento em sociedade ou o rumo do
processo educacional.
A educação de surdos,
que já tinha avançado com a aplicação da Língua de sinais, sofreu um retrocesso
com a valorização da invenção do telefone para a comunicação à distância.
O direito ao
bilinguismo significa que o processo educacional do surdo garante a assimilação
das eficientes formas de comunicação. A história do ensino de surdos é um
excelente exemplo de que cabe à ciência incorporar conhecimentos e não
excluí-los em nome de concepções e doutrinas.
A história do ensino
de surdos é um excelente exemplo de que cabe à ciência incorporar conhecimentos
e não excluí-los em nome de concepções e doutrinas.
O que é deficiência
intelectual
Atualmente, no mundo
científico, o termo deficiência mental está sendo substituído por deficiência intelectual.
Pela concepção do
suporte, a deficiência pode ser minimizada, mas para tal o contexto social tem
de oferecer os suportes adequados.
As pessoas com
deficiência intelectual eram avaliadas somente pelo quociente intelectual e, a
partir daí, eram enquadradas pelos critérios de educável ou treinável.
As novas concepções
propõem agregar à avaliação do quociente intelectual a avaliação das
capacidades adaptativas, para definir os suportes necessários à funcionalidade
da pessoa com deficiência intelectual.
O enfoque não é mais
a pessoa com deficiência, mas o meio em que ela vive e como este meio poderá colaborar
para o estímulo do potencial desta pessoa.
A cegueira
Mas um fato logo
chama nossa atenção: a deficiência de visão associada ao sobrenatural, como
sinal de inteligência. Veja como a associação da cegueira com o sobrenatural
fez tradição e até hoje ganha visibilidade.
Para refletir:
1. Você
percebe que ainda vivenciamos paradoxos em relação aos alunos com deficiência e
necessidades especiais?
Sim. Ainda existe por parte de muitos
educadores e pessoas da sociedade uma grande dificuldade em tratar o deficiente
como uma pessoa “normal”, respeitando seus limites e necessidades especiais de
aprendizagem e convívio social.
2. Procure
entrevistas e depoimentos de famílias de pessoas com deficiências e de
profissionais, propagandas com fotos e imagens. Observe se encontra termos na
atualidade que se refiram a estas concepções demonológicas ou divinas da
deficiência: Ex: Ele(a) é meu anjo; parece encapetado; parece que uma coisa se
apodera dele; etc.
3. Como
as concepções demonológicas podem dificultar a implementação de práticas pedagógicas
para alunos com deficiência e necessidades especiais?
Podem dificultar a
implementação de práticas pedagógicas caso a visão dos educadores estejam
presas a definição de que existe uma parte do cérebro onde a doença está
localizada, ou demônios. Atualmente a neurociência busca o entendimento do
desequilíbrio no funcionamento das áreas cerebrais e o surgimento das patologias
cerebrais.
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