QUESTÃO 1 (valor 4,5 pontos) Leia os textos
e responda às questões:
Texto I
E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...
Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.
Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira,
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
Nem sei se eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao solo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.
(Poema de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, poeta português do início do século vinte)
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.
Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira,
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
Nem sei se eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao solo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.
(Poema de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, poeta português do início do século vinte)
QUESTÃO 1.1.
Como se dá a relação entre a criação
da poesia, para o poeta, e a criação na natureza, para Alberto Caeiro?
Exemplifique com passagens do texto I.
Resposta presumida (inspirada em
avaliação realizada por aluno)
- Uma possibilidade seria dizer que o poeta, quando diz “que triste não saber florir”, está comparando a poesia a flores, com a diferença que a natureza não faz força para florir e o poeta tem que trabalhar duro, como um capinteiro. Nesse caso o poeta usa a metáfora da terra para o universo porético.
- Também é possível imaginar que há poetas que trabalham duro como carpinteiros sobretudo quando propõe poemas fixos, como sonetos, diferente de outros que usam versos livres.
- O importante é pensar, diante de uma questão em que a resposta depende de uma boa leitura do texto literário, que a resposta correta depende apenas da atenção para correlacionar o que foi perguntado ao texto lido, de modo a buscar a melhor resposta.
Texto
II
Soneto de Fidelidade (Poema de Vinícius de Moraes, poeta brasileiro
de meados do século vinte)
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
QUESTÃO 1.2.
Examine a
composição do poema de Vinícius de Moraes e descreva pelo menos dois
elementos singularizantes de que ele se vale para essa composição poética,
dando exemplos retirados do texto II.
Resposta presumida (inspirada em
avaliação realizada por aluno)
- O poema é composto na forma de um soneto, usando como recurso fonético a aliteração, que cria a rima final.
- O soneto, de que se utiliza o poeta, é uma forma fixa, construída por dois quartetos e dois tercetos. No caso do Vinícius, como optou pelo verso longo de doze sílabas, alexandrino, um verso clássico, então a musicalidade para flar de amor ainda fica mais explícita. Acentuada pelas rimas.
Resposta
presumida (inspirada em avaliação realizada por aluno)
O importante
nessa reposta é revelar que conhece os elementos singularizantes da poesia:
composição de versos em formas livres ou fixas, utilização de rimas, figuras de
linguagem, tipo de musicalidade obtida.
QUESTÃO 1.3.
Quais as características poéticas
comuns aos dois poemas, se pensarmos na relação entre os sentimentos que
transmitem os poetas em cada um dos textos e a forma que escolhem para se
expressar? Sua resposta deve transmitir uma reflexão baseada nos conhecimentos
que auferiu da leitura das Aulas sobre Poesia.
Resposta presumida (inspirada em
avaliação realizada por aluno)
A carga
emocional dos dois poetas, a manifestação do eu lírico, tanto num quanto noutro
é expressa pelo uso de ritmo marcado, por exploração das sonoridades com rimas
e aliterações, exemplificando as resostas.
QUESTÃO 2. (valor 3,0 pontos) Leia o texto abaixo e a seguir responda às questões:
O BURRO JUIZ, de Monteiro Lobato
Disputava
a gralha com o sabiá, afirmando que a sua voz valia a dele. Como as outras aves
rissem daquela pretensão, a bulhenta matraca de penas, furiosa, disse:
—
Nada de brincadeiras. Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por
um juiz. Canta o sabiá, canto eu, e a sentença do julgador decidirá quem é o
melhor artista. Topam? — Topamos! piaram as aves. Mas quem servirá de juiz?
Estavam
a debater este ponto, quando zurrou um burro.
—
Nem de encomenda! exclamou a gralha. Está lá um juiz de primeiríssima para
julgamento de música, pois nenhum animal possui maiores orelhas. Convidêmo-lo.
Aceitou o burro o juizado e veio postar-se no centro da roda.
—
Vamos lá, comecem! ordenou ele.
O
sabiá deu um pulinho, abriu o bico e cantou. Cantou como só cantam sabiás,
garganteando os trinos mais melodiosos e límpidos. Uma pura maravilha, que
deixou mergulhado em êxtase o auditório em peso.
—
Agora eu! disse a gralha, dando um passo à frente.
E
abrindo a bicanca matraqueou uma grita de romper os ouvidos aos próprios
surdos. Terminada a justa, o meritíssimo juiz deu a sentença:
—
Dou ganho de causa à excelentíssima senhora dona Gralha, porque canta muito mais
forte que mestre sabiá.*
Moral da
História:
*Quem burro nasce, togado ou não,
burro morre.
http://contosbrasileiros.blogspot.com/2008/01/monteiro-lobato.html
Acessado em 10/11/2009
QUESTÃO 2.1.
Você viu, pelo material didático,
que Monteiro Lobato representa a virada moderna da Literatura infantil no
Brasil. No entanto, neste conto, ele continua uma tradição literária da
literatura popular. A que gênero pertence este conto? Explicite pelo menos duas características e
retire do texto um exemplo para cada uma.
Resposta presumida (inspirada em
avaliação realizada por aluno)
Esse conto pertence ao
gênero literário fábula. Trabalhando temas do imaginário popular, as fábulas
apresentam duas característica principais: seus personagens em geral são
animais que falam e ao final apresenta-se claramente uma ‘moral da história’.
QUESTÃO 2.2.
Que traço de linguagem pode-se
considerar na retomada por Lobato que é uma característica marcante da
literatura infantil posterior a Lobato, e que se vê em escritoras como Ruth
Rocha, por exemplo. Indique e comente.
Resposta presumida (inspirada em
avaliação realizada por aluno)
As
características mais fortes do Lobato autor de Literatura infantil é a
exploração do imaginário da criança e a utilização de humor no tratamento
desses temas e na configuração das situações e das personagens, que se
expressam de modo peculiar, fazendo graça, distorcendo as coisas, oferecendo
explicações nada convencionais para o mundo.
QUESTÃO 3 (2,5 PONTOS) sobre o texto dramático
O grande teatrólogo, que ajudou a firmar os traços de
um teatro brasileiro, Artur Azevedo (assinava A.A.) escreveu em 21 de outubro
de 1908, em O Século, jornal que
circulava diariamente no Rio de Janeiro do início do século 20, o último número
da série “Teatro a vapor”, o número 105, A
despedida. São cenas dramáticas completas em um ato (sainetes) e que
apresentam todas as características relativas ao gênero dramático, conforme
você pode identificar a partir da leitura da Aula 17 e do material
complementar. Leia o diálogo e responda às questões:
Em
casa do Hermenegildo. São dez horas da manhã. O dono da casa está no seu
gabinete. A família está reunida na sala de jantar.
A Senhorita – Que tem hoje papai? Acabou de
almoçar, e, em vez de sair como de costume, fechou-se em seu gabinete.
O Filho mais velho – Algum trabalho
urgente da repartição!
A Senhora – Tua irmã diz bem: aquilo não é natural.
O Filho mais novo – Estava muito preocupado durante
o almoço...
A S. – Não sei o que me diz o coração!
A Sra. – Oh, menina, tu assutas-me! Pareces que tens medo que
teu pai se suicide!
O F.M.V.– Que lembrança!
O F.M.N. – Que razões haveria para papai suicidar-se?
A S. – Quem sabe lá!
Vou espiar pelo buraco da fechadura... (Adianta-se
pé ante pé para o gabinete, cuja porta se abre. Hermenegildo aparece com ares
solenes e uma carta lacrada na mão. Silêncio geral).
H. (Depois de uma longa pausa comovido).– Minha
mulher...meus filhos...o momento é solene. (Outra
pausa). Sentemo-nos. (Sentam-se todos
a olharem uns para os outros. Nova pausa). Minha adorada mulher... meus
queridos filhos... vou sair e não sei se voltarei a esta casa.
Todos – Oh!
H. – Henriqueta, aqui tens o meu testamento!
A Sra. – O teu testamento?
H. – Sim. Há viver e morrer!
A Sra. – A tua vida corre perigo?
H. (Com a voz sumida). - Sim.
A S. (com um grito): - Ah! Já sei... não é outra coisa! Papai vai
bater-se em duelo! (Choradeira geral).
H. – Que é isso? Não chorem! Não me vou bater em duelo!
A Sra. – Que vais então
fazer?
H.- Não te esqueças de que o inquilino do chalé da rua dos
Araújos está devendo três meses vencidos... Não te esqueças de que o compadre
Malaquias não pagou ainda aqueles trezentos mil réis que me pediu... Não te
esqueças...
A Sra. – Hermenegildo, tu vais matar-te?
H.– Não! Nunca! Os meus papéis estão todos em ordem. A
apólice do teu seguro de vida está no cofre. A Funerária fará o meu enterro.
Todas as indicações estão na gaveta do meio. (Recrudesce a choradeira)
A Sra. – (Debulhada em pranto) Mas onde vais
tu, Hermenegildo?
H. (Com um suspiro). Vou tomar o
elétrico da nova linha de S. Januário.
QUESTÃO 3.1.
Descreva
os personagens dessa ação e comente o modo como são indicados na cena.
Resposta presumida (inspirada em
avaliação realizada por aluno)
As
personagens são indicadas pela posição que ocupam na família e pela sigla dessa
posição, de modo bastante original. Por exemplo O filho mais velho é OFMV.
Apenas os dois donos da casa têm nome: Hermenegildo e Henriqueta. Mesmo assim o
nome dela só aparece no diálogo. Ela é indicada como A Senhora.
QUESTÃO 3.2.
Descreva
os outros elementos singularizantes da cena, além dos personagens, já citados
na questão anterior.
Resposta presumida (inspirada em
avaliação realizada por aluno)
O texto dramático, diferente do
narrativo, é escrito para ser encenado. De modo que as indicações de tempo,
espaço, circunstâncias e ações são indicadas por um texto entre parênteses,
narrativo, explicativo, que se chama rubrica ou didascália. O texto em si é
econômico, traz apenas o diálogo entre as personagens, isso é as falas que os
atores reproduzem na cena.
QUESTÃO 3.3.
O que
se pode comentar do humor que a cena apresenta?
Resposta presumida (inspirada em
avaliação realizada por aluno)
O humor é um tanto sarcástico, pois
satiriza o fato de o protagonista, um senhor rico e bem posto, fazer tanto
escarcéu por causa de uma simples viagem de bonde elétrico. A peça traz essa
informação sobre a época da implantação das novidades no Rio de Janeiro do
princípio do século XX.
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