sexta-feira, 5 de julho de 2013

RESUMO LITERATURA NA FORMAÇÃO DO LEITOR (2013.1) - MÓDULO 4

MÓDULO 4: MODOS DE FICÇÃO NA LITERATURA INFANTOJUVENIL
AULAS: 12, 21, 11, 22, 23

AULA 11: TEXTO LITERÁRIO 3 – A EXEMPLARIDADE
EXEMPLARIDADE: O QUE É? DE ONDE VEM?
Exemplum é um texto curto, que narra uma situação exemplar – como o nome já sinaliza – com o objetivo de imprimir à história uma lição de moral.
A utilização a que se destinaram os exempla explica porque a exemplaridade é sempre associada ao caráter didático e moralizante dos textos em que se faz presente. É o caso das fábulas.

Em virtude da necessidade de atingir um público em iminente situação de ceticismo, os PREGADORES passaram a utilizar narrativas exemplares que eram, a um só tempo, doutrina e entretenimento. As fábulas tiveram papel importante nesse processo.

Pode-se mesmo afirmar que essa dimensão ficcional do exemplo é um elemento facilitador da aceitação das regras de moral e comportamento que o pregador teve a missão de incutir em seu público.

O prazer de ouvir boas histórias torna-se, nesse momento, a chave para obter a então quase perdida atenção do público ouvinte. É a descoberta dessa estratégia que leva à incorporação das fábulas nos sermões dos pregadores.

O exemplum configura-se numa estratégia retórica que, por isso mesmo, o aproxima mais ainda do literário.

COMO O TEXTO EXEMPLAR CHEGOU ATÉ NÓS?

A Idade Média foi o momento em que o texto exemplar ganhou um status que até então não possuía. Este passou a ser utilizado com o objetivo de manter uma estrutura social submetida a uma série de regras de moral e comportamento necessárias à sustentação do poder, sobretudo o religioso. A importância desses textos está, nesse momento histórico, intimamente ligada a objetivos políticos e religiosos.

A exemplaridade não desaparece da estrutura dos textos. Em outras palavras, aquela lição de moral que ficava tão clara na leitura de textos como as fábulas, por exemplo, não era mais evidente, o que não significa que tenha deixado de existir.

O texto literário se diferencia dos demais tipos de textos, entre outros elementos, pela presença de uma estrutura latente, aquilo que chamamos de “entrelinhas”. Pois é justamente nas entrelinhas que podemos encontrar a exemplaridade a partir de determinado momento da história da leitura.

A fábula é um texto sempre muito curtinho, que traz uma história simples, mas emblemática. Contudo, mais importante que essa história, é a chamada “moral da história”, pois é nesse momento que a lição de moral é trazida à cena. Atente para esse detalhe: ela é explícita, ou seja, o exemplo faz parte da estrutura manifesta do texto, está ali para quem quiser ver, sem disfarce.

Agora, vamos à Bela e a Fera. Podemos ver que a história, já não tão simples quanto a fábula, continua sendo emblemática, isto é, trabalha com ARQUÉTIPOS fortes – a moça delicada em contraposição a uma “fera”. Ao longo da leitura, não há a explicitação da lição a ser aprendida por meio de uma moral da história, mas o percurso dos amados e o desfecho apontam para a presença dessa lição ainda na estrutura manifesta do texto, mesmo que não seja de forma privilegiada, como ocorre na fábula.

AULA 12: LITERATURA FANTÁSTICA: O ESTRANHO E O MARAVILHOSO
O QUE É VEROSSIMILHANÇA?
VEROSSIMILHANÇA é a capacidade que um texto tem de ser fiel à sua própria lógica.

Em outras palavras, nossa primeira reação diante de um fato estranho é tentar uma explicação natural para justificá-lo. Sempre apelamos para a lógica, para aquilo que está nos limites do nosso alcance.

Com a literatura, entretanto, é diferente. Ela não tem esse compromisso de refletir logicamente a vida. Na literatura, “a face cruel da verdade” é coberta pelo “manto diáfano da fantasia”. Assim, no âmbito da ficção literária, o parâmetro não é a lógica do mundo real.

É por isso que, ao ler a história de Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, acatamos sem problema o fato de o lobo falar com a menina. Isso se dá porque, dentro do universo do texto, esse é um fato verossímil, ou seja, não nos causa estranheza, pois sabemos, ainda que intuitivamente, que aquele universo é regido por leis diferentes das que regem o mundo real. Desde que o texto seja fiel à lógica por ele instaurada,
nós o aceitamos sem problemas.

FANTÁSTICO, ESTRANHO E MARAVILHOSO: ONDE ELES ENTRAM?

Costuma-se definir literatura fantástica como aquela em que o texto não se submete por inteiro às leis do senso comum, à lógica da Natureza, tal como a concebemos.

No texto fantástico, aquilo que, no mundo real, e, portanto, de acordo com o senso comum, seria considerado sobrenatural, é tratado como natural. Nesses textos, encontramos os animais que falam, seres de outros mundos, bruxas, fadas, e toda uma gama de personagens e acontecimentos incompatíveis com a realidade que nos cerca, mas absolutamente coerentes com o mundo ficcional do texto que habitam.

Ocorre que, mesmo na ficção, os fatos extraordinários podem assumir um caráter especial, ou simplesmente não causarem nenhuma estranheza. Por essa razão, costuma-se dividir a literatura fantástica em níveis, de acordo com sua proximidade ou com seu afastamento da lógica do mundo real. Nessa divisão, trabalhamos com duas possibilidades de ocorrência do fantástico: o estranho e o maravilhoso.

ESTRANHO E MARAVILHOSO – QUAL A DIFERENÇA?

Quando, ao longo ou ao final da narrativa, acontecimentos aparentemente inexplicáveis, sobrenaturais até, recebem uma explicação racional, estamos diante do estranho.

O fantástico é reduzido a estranho por meio de alguns procedimentos narrativos, tais como: o sonho, a alucinação, a ilusão, a loucura.

No maravilhoso, os fatos não apenas parecem, mas são, realmente, extraordinários. Isso quer dizer que, no maravilhoso, os fatos não estão subordinados à lógica do mundo que nos cerca. A única forma de compreender e aceitar o que se passa é admitir a intervenção de mundos até então inadmissíveis, regidos por leis próprias. Essas leis levam-nos a aceitar, inclusive, a convivência de seres do mundo real com seres do mundo sobrenatural. Dessa forma, no maravilhoso, os seres humanos dividem naturalmente espaço com bruxas, duendes, gigantes, alienígenas e todo tipo de personagem que a ficção seja capaz de engendrar.

O TEXTO E O LEITOR
Mesmo porque, a afetividade é um dos elementos que conformam a literariedade de um texto. Quando falamos em afetividade não estamos nos referindo, especificamente, a uma relação de carinho. Trata-se de um termo da Teoria da Literatura, segundo a qual o texto literário afeta, inevitavelmente o leitor, ao mesmo tempo que é afetado por ele, já que o leitor gera sentidos para o texto.

Quando nos deparamos com um texto em que o elemento maravilhoso se destaca, essa afetação se reveste de um caráter sensorial bastante intenso, pois somos tomados por sensações ligadas, ao mesmo tempo, ao medo e à curiosidade, à raiva e à pena, ao terror e à coragem. Em nenhum momento, porém, questionamos a pertinência nem dos acontecimentos do texto, nem das sensações que eles nos despertam. Acatamos a lógica interna do texto, deixamo-nos levar por suas ocorrências insólitas e ainda nos afligimos com o destino das personagens.

AULA 21: AS FÁBULAS

A fábula seria uma variante do conto, veiculando uma realidade ideal capaz de preencher as expectativas dos leitores, que vêem ali um mundo de possibilidades, muitas vezes.

Estrutura:
- caráter narrativo
- enredo como exemplo
- aforisma ou provérbio
- ensinamento contido na 1ª parte
- converte-se na moral da história

Fábula: discurso do qual se retira uma lição, o que explica o termo “literatura exemplar”.

Objetivos: ensinar, incutir soluções e padrões de comportamento que já vem pronto em sua narrativa.

A “moral da história” é a síntese do objetivo maior da fábula: ensinar e por isso é sempre entendida como um texto de caráter didático.

Assume um caráter exemplar de objetivo moralizante.

Ela constrói-se basicamente sobre a alegoria que garante ao texto um caráter fantástico que possibilita um aparente e estratégico afastamento do campo de referencia externo, o que se torna fundamental para o seu acatamento.

Indeterminação geográfica e temporal da ação e da interferência do narrador que serve de mediador entre o texto e o leitor.
 

AULA 22 – OS CONTOS DE FADAS E OS CONTOS MARAVILHOSOS

CONTOS MARAVILHOSOS

Os contos maravilhosos e os contos de fadas são, hoje, tratados como um único tipo de narrativa. Na verdade, eles diferem na origem e nos elementos que os compõem.

A origem dos contos maravilhosos, diferentemente da origem dos contos de fadas, é oriental. Sua ênfase é na necessidade básica do herói, que, em sua busca, prioriza a questão material e a sensorial em detrimento da espiritual, como ocorre nos contos de fadas.

Nos contos maravilhosos, o desejo de auto-realização do herói é o eixo central da narrativa, que transcorre sempre em ambientes mágicos, contudo, sem a presença de fadas.

 CONTOS DE FADAS

Os contos de fadas têm origem celta, a mesma tradição que nos brindou com os romances de cavalaria. A cultura celta é caracterizada pela presença de forte religiosidade, o que influenciou grandemente a cultura ocidental.

Os contos de fadas, então, caracterizam-se por uma magia, em que convivem reis, rainhas, gênios, bruxas, fadas. É interessante saber que, apesar do nome, os contos de fadas nem sempre têm fadas em seu enredo.

Há procedimentos que especificam o conto de fadas:

A atemporalidade está expressa no famoso tópico frasal “Era uma vez”. O tempo em que se passa a história não é jamais definido. É um tempo qualquer, que nunca envelhece, é sempre o tempo do leitor.

O mesmo ocorre com a indeterminação espacial. É um reino distante, ou um reino cujo nome jamais encontraremos no mapa. É, na verdade, o lugar da ficção, ou seja, um espaço possível só no âmbito ficcional.
Em outras palavras, os príncipes e as princesas do conto de fadas são belos e bondosos. Enfrentam uma série de obstáculos para alcançar seus objetivos. Esse confronto reforça o caráter maniqueísta desses textos: o bem, representado pelo herói, combate o mal, representado pelos obstáculos. Estes, por sua vez, não são apenas torres altíssimas e dragões venenosos, mas também as personagens que se opõem flagrantemente aos heróis, como as bruxas.

Além disso, esses heróis e heroínas são movidos pelas virtudes valorosas do espírito humano. É isso que os move e os faz enfrentar todo o mal. Afinal, eles são a personificação da perfeição ética.

AULA 23 – O CONTO DE FADAS MODERNO

O QUE MUDOU, O QUE FICOU...

A estrutura dos textos fundadores da tradição literária ocidental é a base para o entendimento desse enorme interesse do ser humano por narrativas de cunho maravilhoso. Os textos modernos mantêm essa estrutura.

A fábula moderna mantém a estrutura da fábula clássica, com o cuidado de adaptar-se ao interesse infantil. O mesmo se pode observar em relação ao conto infantil, que se convencionou chamar de conto de fadas. Essas narrativas – os contos de fadas – trazem a marca das forças antagônicas, já que o bem e o mal se enfrentam e se presentificam como valores de formação da mentalidade infantil.

O ANTIGO E O NOVO NA ESTRUTURA DOS CONTOS DE FADAS

Nelly Novaes Coelho entende a perpetuação dos contos populares e das fábulas nas culturas contemporâneas a partir da utilização de uma linguagem simbólica ali presente.

Os vícios e as virtudes, presentes no inevitável embate entre o bem o mal, aparecem nesses textos antigos e continuam presentes nos textos que hoje são lidos pelas crianças.

Além disso, existem aspectos formais que tornam esses textos peculiares e que explicam a ampla aceitação que receberam por parte das crianças.

A indeterminação temporal do texto é um desses aspectos, e cristalizou-se na literatura infanto-juvenil a partir, principalmente, da expressão “Era uma vez”.

Outro elemento particular dos textos analisados pela autora é a referência explícita ao “ato de contar” a história, cuja função estará ligada à origem dessas narrativas, que eram contadas oralmente.

Um terceiro elemento que denuncia a particularidade das narrativas infantis é a forma do conto, que se traduz, para Nelly, na intenção dos narradores de transmitir mensagens exemplares por meio de situações cotidianas, o que reforça a identificação que a autora defende entre literatura popular exemplar e literatura infanto-juvenil.

A repetição também é definida como um dos aspectos dessas narrativas, e ela se dá tanto no nível discursivo como no estrutural da narrativa, compatibilizando-se, nesse ponto, com uma exigência inerente ao leitor infantil, que é a de ouvir ou ler repetidamente uma mesma história, rejeitando qualquer alteração que se pretenda nela introduzir.

A representação simbólica, que na visão da autora engloba a utilização de metáforas, símbolos, alegorias, é também a tônica das narrativas infantis, que, dependendo da época de sua produção, têm um elemento predominantemente específico.

Isso leva à criação de personagens tipos, que são, muitas vezes, puras alegorias, como, por exemplo, os animais nas fábulas. A tipificação das personagens é, para Nelly, outro elemento singularizante das narrativas infantis.

A presença do maravilhoso também se configura como um aspecto especial desses textos, fato que decorre do que Nelly denomina de “pensamento mágico”, característico do mundo arcaico.

Por fim, a autora considera a exemplaridade como “um dos objetivos mais evidentes da narrativa primordial novelesca” (p. 76), e inclui esse elemento como outro aspecto responsável pela peculiaridade do texto infantil.

A PERMANÊNCIA DO CONTO DE FADAS NO IMAGINÁRIOINFANTIL – E ADULTO...

Os contos de fadas rompem com essa estrutura ao serem considerados antipedagógicos. Tal consideração levava em conta, sobretudo, a veemência dos acontecimentos diante das falhas de conduta, mas é a presença dos elementos fantásticos que desde logo incomoda o intuito pedagógico. O mesmo não ocorre com as fábulas, pois estas, segundo a visão da pedagogia, carregam consigo um realismo utilitário, caríssimo aos princípios do ensinamento.

A fantasia – entendendo-se, por esse termo, o maravilhoso – não é privilégio do texto infantil. A proporção que ganha no texto infantil é, sem dúvida, maior que a da literatura em geral, e sua identificação com o pensamento mágico do mundo antigo é mais um ponto de contato entre as narrativas dessa época e as histórias para crianças.

Pode-se mesmo dizer, grosso modo, que a criança é capaz de “aproveitar” muito melhor a fantasia que o texto lhe proporciona do que o adulto. Contudo, o conto de fadas moderno tem sido literatura para leitores de 8 a 80 anos.
  
E HARRY POTTER?

Afora qualquer juízo de valor, já que a literatura não se caracteriza por esse critério, não podemos deixar de reconhecer que Harry Potter é, sim, um conto de fadas moderno.

O primeiro importante aspecto que o caracteriza é a eleição de uma personagem criança, facilitando, dessa forma, a identificação do leitor. O leitor implícito coloca-se com facilidade no lugar da personagem que, como ele, é também uma criança.

No universo ficcional de Harry Potter, dois mundos convivem paralelamente: o dos “trouxas” e o dos bruxos. Neste último, há uma hierarquia que reduplica o mundo real – há bruxos que lideram grupos, por exemplo, e os mais velhos são respeitados por sua vivência e sabedoria –, e os bruxos não contam apenas com seu dom para exercer a bruxaria. Eles precisam aprender, e para isso frequentam uma escola especial para eles, Hogwarts, onde, como em qualquer escola, há grupos rivais, amigos, invejosos, medrosos, e toda sorte de personalidades com as quais convivemos em nossa vida.

Harry lança mão de valores humanos para vencer o mal. Com isso, a narrativa reforça a importância dos valores humanos e mostra que o herói é movido por objetivos nobres.

Os arquétipos típicos do conto de fadas são mantidos, e a luta do bem contra o mal continua a ser o tema central da narrativa. Apesar dessa identificação inegável com o conto de fadas tradicional, opera-se, aqui, a ruptura com o modelo de perfeição absoluta que caracteriza o herói daqueles textos. Se os príncipes e princesas que aprendemos a admirar nos contos de fadas tradicionais são exemplos da perfeição ética e estética, este não é, absolutamente, o caso de Harry. Ele tem suas fraquezas, é fisicamente o oposto do que se espera de um herói, mas preserva os valores morais e luta por eles.

Por Cris Canedo





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