MÓDULO 2: GÊNEROS LITERÁRIOS E SEUS ELEMENTOS
SINGULARIZANTES
AULAS: 8,10,9 + AC2
AULA 8:
TEXTO LITERÁRIO – ELEMENTOS SINGULARIZANTES
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Alguns textos utilizam argumentos, tentam convencer, persuadir os leitores, ou
seja, buscam formar opinião. Nos cinco textos apresentados (ver páginas 8, 9 e
10), alguns informam, dissertam, argumentam; procuram aprofundar nossa
compreensão sobre um tema. Por vezes, buscam influenciar-nos; por outras,
adicionam elementos informacionais para que possamos refletir. Esse tipo de
texto, cujo objetivo é informar, dirige-se a um público mais especializado. No
entanto, há um outro grupo de textos cujo alvo não é a informação.
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Os textos 4 e 5 (p.10) são exemplos característicos de textos literários e
possuem singularidades que vamos apontar nesta parte da aula.
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Os dois elementos que singularizam o texto literário: a subjetividade (emoção
do 'eu' e a conotação (linguagem figurada, com suas figuras de linguagem).
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A função poética, predominante no texto literário, molda-se, por meio da
subjetividade nos dois textos em questão.
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Na aula 26 de Língua Portuguesa na Educação 2 vimos que: O texto literário é
criado (…) a partir de uma multiplicidade de códigos – ideologia, retórica –
que vão levá-lo a redefinir informações absorvidas de outros textos. É, dessa
forma, um texto heterogêneo, conotativo, semanticamente autônomo, com uma
verdade própria.
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Os poetas expressão um 'realidade' única, fruto de suas vivências, experiências
pessoais e intransferíveis.
AULA
9: TEXTO LITERÁRIO 1 – A FICCIONALIDADE
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As definições de ficção dizem respeito, de um modo ou de outro, a capacidade
dos seres humanos de fingir, imaginar a realidade. Nos estudos literários há um
grau maior de intencionalidade. Para que um autor possa imprimir a uma obra
literária elementos da imaginação, não basta sair inventando o que lhe vier à
cabeça, de forma aleatória. É preciso critério e recursos apropriados da
língua, os quais serão harmonizados com os elementos da obra literária.
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Ficção é o termo usado para descrever obras criadas a partir da imaginação.
Isto se estabelece em contraste à não-ficção, que reivindica ser factual sobre
a realidade. Contudo, não podemos esquecer que obras ficcionais podem ser
baseadas em histórias reais ou não, mas sempre contêm elementos da imaginação.
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Nos trechos de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, “Fabiano, uma coisa da
fazenda, um traste” e “a desgraça estava a caminho”. Em ambos os exemplos, não
podemos considerar as palavras em seu sentido literal, pois nem o personagem é
uma coisa e nem uma desgraça se aproximava, mas o fenômeno da seca, fato comum
no Nordeste. A intenção do ficcionista é justamente criar um efeito de sentido
em que as palavras deslocadas de seu sentido primeiro múltiplas significações.
Já no trecho do texto de Gilberto Freire sobre um estudo do Nordeste, usa-se
uma linguagem direta e objetiva, apresentando os fatos de forma descritiva e
analítica, com elementos de natureza explicativa, que nos fala à racionalidade.
Então, podemos concluir que a obra de Graciliano Ramos é ficcional e o texto de
Gilberto Freire é não ficcional.
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Ficcionalidade: condição do que é ficcional; característica de uma obra
literária, especialmente da prosa, de apresentar uma interpretação e/ou
construção criadora de uma realidade plausível ou fantástica.
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sobre essa definição, podemos dizer que essa concepção coloca em jogo aquilo
que o leitor da obra literária considera verossímil, mesmo lidando com a
fantasia ou não; para garantir a condição de existência de uma obra literária,
não vale imaginar do jeito que quiser; o leitor, exigente, deseja
verossimilhança entre os elementos que a compõem.
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Segundo o crítico literário Antônio Cândido, os três elementos principais de um
romance são o enredo (a história), as personagens (que representam a sua
matéria) e as ideias (que representam o seu significado). Para falar do
equilíbrio entre os elementos estruturais do romance, o crítico ressalta a
importância da construção da personagem, o fascínio que ela causa nos leitores,
mas não se esquece de indicar a relevância do enredo e nem das ideias.
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Os conceitos de verossimilhança e ficcionalidade se aproximam. Se o escritor
inserir no romance elementos da imaginação que não se sustentam nem na
estrutura da história, nem da construção da personagem, nem no nível das
ideias, não há verossimilhança, prevalece um baixo nível de ficcionalidade e,
assim, o romance acaba não convencendo o leitor.
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Relação ficção x realidade: nenhum romancista inventa histórias extraídas do
além. Vivemos organizados em sociedade, precisamos compreender as relações
entre ficção e realidade, confiando na importância deste tipo específico de
conhecimento para refletir critica e esteticamente sobre o mundo e, quem sabe,
modificá-los. Muitos romances, além de provocar a imaginação, trazem elementos
da realidade à nossa lembrança. Leia uma crônica de Graciliano Ramos sobre as
estreitas relações entre ficção e realidade na página 29.
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O jogo entre ficção e realidade é muito antigo na tradição dos estudos
literários. Aristóteles, em sua Poética, fazia menção ao conceito de mímese,
que se referia à imitação do real. O que importa para a nossa discussão é a
possibilidade que a ficção apresenta de falar à nossa imaginação e de
influenciar a vida das pessoas.
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Fantasia e imaginação criadora não significam fuga da realidade; ao contrário,
permitem uma forma qualitativamente diferenciada de se relacionar com o real.
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O texto ficcional traz alguns elementos da realidade e outros elementos que
falam à imaginação do leitor. Após a leitura de um romance, podemos nos
identificar emocional e intelectualmente com uma personagem, torcendo para um
final bem-sucedido para a sua história, imaginando o que faríamos se
estivéssemos em seu lugar e, algumas vezes, sofrendo e nos emocionando como se
fôssemos as próprias personagens, daí vem a força da ficção, a possibilidade de
nos nutrir e inquietar ao mesmo tempo.
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A obra de ficção é um bem bastante precioso, que não deveria ser jamais
esquecido na formação de todo e qualquer cidadão. Tal obra, ao nos fornecer
modelos de vida para além da vida cotidiana, torna possível essa compreensão de
forma crítica e imaginativa.
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Importante: A ficcionalidade é uma característica fundamental no texto
literário. Ficcionalidade e realidade não se excluem, antes se complementam. A
ficção é uma modalidade de leitura indispensável à formação do leitor.
AULA
10: TEXTO LITERÁRIO 2 – LITERARIEDADE
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Os textos literários chamam a atenção pela sua singularidade. O texto 1 (Vidas
Secas, p.40) é um texto que emociona, mesmo sem falar de amor. Isto é
literariedade. O texto 2 (p.41) é um poema, assim como o 3. Não são textos que
rimam (um poema não precisa rimar). Ambos possuem musicalidade e ritmo
próprios, o que já os qualifica dentro do gênero literário, independentemente
da rima. No texto 2, os fonemas v e f lembram o som do vento. No texto 3, esse
ritmo e essa musicalidade podem ser percebidos por meio de recursos diferentes.
Por exemplo, a pontuação utilizada: há versos interrompidos por pontuação e
outros que fluem, em conjunto, até nova pontuação surgir surgir no horizonte.
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Esses elementos fazem parte do que denominamos literariedade.
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Segundo Jakobson, 'o objeto do estudo literário não é a literatura, mas a
literariedade, isto é, aquilo que torna determinada obra uma obra literária'.
Dessa forma, literariedade é a essência do texto literário, a sua natureza. Tal
essência, tal como já vista em outras aulas, constitui-se pela subjetividade,
trabalhada esteticamente, bem como pelo uso, preferencial, da linguagem
conotativa, e ainda, pela verossimilhança.
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Plurissignificação: Aguiar e Silva opõe a linguagem literária –
plurissignificativa – aos discursos lógico e jurídico, que são
monossignificativos. Para o autor, “a palavra adquire dimensões
plurissignificativas graças às relações conceptuais, simbólicas, imaginativas,
rítmicas etc., que contrai com outros elementos que constituem o seu contexto
verbal.”. Dessa forma, podemos afirmar que o texto literário propõe vários
sentidos e pressupõe múltiplas leituras, já que as palavras, as expressões e as
formas linguísticas utilizadas são, exatamente, para imprimir-lhe a
literariedade.
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É importante perceber que as sonoridades verbais, os sistemas retóricos,
léxicos e sintáticos trabalhados de uma forma estética podem levar a um texto
literário. Mas, para que essas possibilidades aflorem no texto, é preciso
também que nos deixemos afetar por ele, ou seja, que estejamos abertos para a
leitura literária, buscando a multiplicidade de sentidos que esse texto possui.
Importante:
Ao trabalhar com um texto literário, é possível partir de elementos que
evidenciam sua natureza e o caracterizam. Esses elementos constituem a
literariedade desse texto. A literariedade pode ser evidenciada pela
plurissignificação e pelo trabalho artístico com o texto.
Por Paulo
Ávila – Tutor Presencial do CEDERJ (Polo Barra do Piraí)
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