segunda-feira, 27 de setembro de 2010

AD2 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 2009.1

1. Estudar gramática é realmente importante? Ela não é apenas um amontoado de regras aborrecidas que só perturbam nossa espontaneidade quando falamos e escrevemos? Para que nossa discussão sobre o assunto torne-se mais profunda, leia atenciosamente o texto a seguir, trechos de um depoimento dado pelo professor e filólogo Antonio Houaiss, membro da Academia Brasileira de Letras, à revista Sala de aula. A seguir, responda às questões sobre o texto.
 

Se só a minoria fala bem, é porque a maioria come mal.

“(...) uma coisa é uma língua ágrafa, uma língua sem escrita (há cerca de 10500 delas no mundo), sem escolas, sem professores e sem alunos, e outra coisa é uma língua gráfica, como o português, que tem mais de 400 mil palavras e é utilizada por mais de 150 milhões de pessoas.”
“Nas línguas ágrafas, com cerca de três mil palavras, não há erros de gramática ou de linguagem. Alguns povos ainda as utilizam. Por que nas nossas sociedades gráficas, com escrita, existe o erro de gramática? Porque estas sociedades acumulam o presente com o passado, de tal maneira que o uso vivo da língua, o grupo em que a pessoa se insere, não bastam para que ela tenha um conhecimento da totalidade da língua que lhe está sendo transmitida. Então se institucionalizam as redes de escolas, de professores e alunos, para que essa língua possa continuas a ter suas funções fundamentais, que são as de fornecer as chaves do saber, as chaves do poder, mas que exigem um tempo muito grande de investimento no indivíduo. Numa língua gráfica, como o português, o que se aprende não é o número de palavras que a língua armazena e sim a capacidade de lidar com elas, utilizando dicionários, enciclopédias e antas outras obras. Línguas dessa natureza são o que é falado e o que é escrito, acumulados.”
Houaiss entende que no Brasil – “86º lugar em qualidade de ensino, com um dos mais indecentes sistemas de ensino do mundo contemporâneo” – não se pode culpar a criança de chegar aos 11 anos falando um português abaixo da crítica.
“Enquanto na França ou na Inglaterra a criança, a partir dos 5 anos, fica de seis a dez horas por dia na escola, e nela permanece durante doze anos de sua vida, a realidade brasileira é bem outra. A língua é um vetor de todo o aprendizado. Quando você aprende Matemática, Física ou Botânica, você está aprendendo a língua. Então, quando você tem uma escola com oito, dez horas de duração, você está na prática aprendendo alguma coisa, mais a língua. Acontece que no Brasil não existe o ensino de base e o problema, é claro, vai desembocar no ensino secundário.”
“Não nego que no Brasil existam pessoas que falem o português correto, mas são uma minoria. E isto é culpa de nossa sociedade, em que 70% da população vivem à beira ou mergulhados na miséria. Numa sociedade como a nossa existem, além das classes prioritariamente ditas, várias culturas. Na cultura ágrafa do Brasil, nenhum brasileiro tem deixado de falar a nossa língua. Sem aprender a ler, sem aprender a escrever, aprende a língua de sua contigüidade. Essa língua ele fala à perfeição. Então os erros que a gente pensa que ele está cometendo, não são erros, não. São erros do nosso ponto de vista, porque nós, não dando a ele a formação que ele deveria ter, queríamos que ele tivesse a nossa formação.”             
REVISTA SALA DE AULA. N. 15, out. 1989, ano 2. p. 15
a) A transmissão e o aprendizado de uma língua ágrafa são muito diferentes da transmissão e o aprendizado de uma língua gráfica. Aponte essas diferenças e comente-as. Entretanto, para fornecer a sua resposta, elabore uma paráfrase em dez (10) linhas, no máximo, e considere o seguinte:
l   autor: Antonio Houaiss;
l   ano  de publicaçâo: 1989;
l   página: 15.
VALOR: 3,0 PONTOS

b) Releia atentamente o último parágrafo e responda: em que consiste o “erro lingüístico”? Justifique a sua resposta, apresentando um exemplo  com a utilização inadequada (incoerência sintática) da palavra “onde”. A seguir, corrija o exemplo fornecido. (Em seis linhas, no máximo.)
VALOR: 3,0 PONTOS



2.  Leia o texto a seguir  atenciosamente.
    O amigo informatizado

                O  amigo transformara-se num maníaco eletrônico: conhecia todas as máquinas, sabia de cor todos os links, recitava todos os  novos softwares e conhecia o mundo inteiro pelo computador.
          Vivia falando de gigas e pentiuns e não perdia uma chance de impor sua olímpica informatização ao pobre mortal, colega de trabalho:
         - Você já tem o último navegador da Microsoft? Você já viu os  sites da imprensa grega? Já leu o artigo de Negroponte na Internet? - perguntava a cada encontro.
         Encontravam-se sempre no elevador, e o amigo aproveitava os curtos períodos e as pequenas audiências do sobe  e desce para discorrer sobre as maravilhas da mídia eletrônica. Teorizava sobre a supremacia do computador com uma desenvoltura irritante, deixando o interlocutor com  ares de um  abobalhado.
        O pobre coitado via-se  sempre no papel de “escada” para que o brilho do  amigo plugado reluzisse no cubículo aos  olhos de estranhos  fascinados. Não foram poucas as vezes que recorreu à mídia milenar da oração, pedindo a Deus que o livrasse da incômoda companhia ao chegar ao prédio do escritório. Talvez Deus também tivesse  aderido à Internet , pois  suas  súplicas não eram correspondidas.
       Um belo dia, à porta do elevador, encontra  o  amigo entre  a costumeira plateia. Todos se preparavam para uma nova sessão de informática quando, para uma surpresa geral, tomou  a iniciativa, dirigindo-se  ao  amigo:
    - Você já sabe da última novidade? Perguntou, invertendo os  papeis.
     - Que novidade?
     - Não sabe? Inventaram um negócio sensacional. Uma mídia que vai revolucionar a sua vida.
    -  Um novo software? Perguntou o  amigo.
    -  Não. Um novo suporte - esnobou.
     E adiantou:
    - Um negócio portátil, que  dispensa telas  e
baterias.
     - Como assim? Tentou imaginar o amigo plugado.
    - Assim, sim. É um material maleável, dobrável, que você pode levar para qualquer lugar, usar no ônibus, no banheiro, deitado no sofá. Traz  as principais  notícias, artigos  e imagens. Chama-se papel. Pode produzir diários e revistas. Não é genial?
     A porta  do elevador   abriu-se, e ele entrou, altivo  e vingado, com seu jornalzinho  debaixo  do braço.

    GONÇALVES, Marcos Augusto. Domingueira. Folha de São Paulo,12.04.98, Caderno Folhabrasil,p.1.
   Na crônica, O  amigo informatizado, percebemos  o confronto entre  duas “culturas”.  De um lado, há um personagem que expressa sua preferência pelo “ mundo informatizado” . De outro, há o que mostra apreço ao “papel”. Analise o texto, identificando os recursos de coerência textual utilizados pelo autor, tendo em vista  a manutenção do confronto entre os dois pontos de vista. Inicie a sua resposta com uma frase declarativa e consulte as aulas 16 e 17 para redigi-la.
VALOR: 4,0 PONTOS



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